Desse lado da cama meus sonhos são todos homéricos. Não consigo interpretá-los, porém gosto muito de vivê-los, mesmo quando são pesadelos, porque os sinto como conversas acima do meu entendimento em línguas novas sussurradas por seres lá de cima, que eventualmente rasgarão meu consciente em traduções interpretáveis.
Do outro lado da cama os sonhos são todos continuações deste mundo. Mesmo quando surge um personagem obtuso, ele é pautado na realidade e suas fórmulas físicas. Nestes tento me comunicar. Tecer conversas com essas pessoas que chegaram à minha presença, como se eu fosse um ônibus abarcando no terminal e aquelas pessoas ali sentadas aguardassem por isso. Tenho a esperança de que essas conversas tenham estrago no mundo real, embora até agora se fizeram cartas perdidas no transporte.
A aflição e a falta de planos sobre como viver o mundo são permanentes aqui e lá, o acordado e o inconsciente, sobre os dois lados da cama, quase sempre cumprindo seu papel de distanciamento, de não concluir as possibilidades de conexão. Importo, mas não pretendo mudar essa situação. Não parece muito aventureiro viver sem ser assim.