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quinta-feira, 27 de julho de 2023

maegami

    Meu cabelo está curto novamente. Não há nada de errado nisso. As plantas crescem, são podadas, morrem, são enxertadas em fenômenos novos. A imagem, diante disso, é recortada e montada em representações que te afetam e afetam os outros.

    Diga-se de passagem: me afeta este cabelo de agora. O que me tornei com ele e com todas as outras camadas pessoais que me determinam enquanto obra observável.

    A natureza solidifica suas formas independentemente da existência humana. A árvore parasita cresce em torno de um tronco agora seco que se manifestou no tempo. Estas todas se comunicam pelas raízes, especulam os cientistas. As raízes aéreas, como transmitem suas mensagens? Em balões de pensamento, como nos gibis, talvez estas plantas comentem os dias. Levam figuras do mundo contadas sem boca e olhos. A existência humana articula seus paradigmas acima da natureza. Por inércia e atitude, nos correlacionamos às irradiações destas correntezas sociais.

    Meu cabelo está curto novamente. Perante isso, na frente do espelho, olho o caractere na esperança de que outra pessoa apareça. Além de mim. Comigo. Que seja a árvore parasita que articula seus membros ao redor. Que seja o tronco agora seco que pontua o tempo. Dê pontos finais e reticências aos textos certos. Faça enxertos e crie com palavras imagens comunicativas - estas audiovisuais - que permaneçam ao sucesso e fracasso destas famílias sobre a terra.

    Quando se morre e é enterrado, você é também uma espécie de raiz para se vincular às vidas todas que deixaram suas marcas na linhagem. Se é queimado, talvez como uma raiz aérea, ou com o azar de ser confinado em baús e cálices, emite seus pensamentos ao resto da morte que vaga. A natureza perdura viva. A carne se manifesta morta. Enquanto em pé, diante do espelho, observo meu cabelo que está curto novamente.