“Isso, isso… É claro que me importo com todos os acontecimentos que a mim são direcionados. Todos nós nos preocupamos, certo? Quem sabe? Não sou eu quem dirá por você. O que posso afirmar é que me importei com tudo e agora passo alheio como se não me importasse com nada. Aquele dia. Aquele acontecimento daquele dia. O que passou, o que vivi. Foi. Sabe o que realmente me incomoda? Perceba, venha analisar: não aquelas palavras das quais ele me chamou, situou e enfiou. É tudo categórico. O que me incomoda é que estavam no diminutivo. Quando criança, não é um problema te tratarem como criança e sim te tratarem como uma criancinha. Uma subcriança. Ali ele já me diminuiu. Restringiu a posse social. Era uma projeto de gente. Dessa forma de gente, tornou-se ainda mais restrita. Mínima. Jogou a dignidade para baixo, terra adentro. A semente, vamos configurar, sequer gerou a muda. Eu me tornei semente diante daquelas palavras. A criancinha que sequer é criança, categoria menor da vida humana, e ali, já adulto, uma categoria abaixo de onde eu poderia estar. Bananas para todo lado, pisando e escorregando. Uma alegoria circense, assim vista. Efeminado, triste, altamente cauteloso. Foi como fui descrito e guardei a raiva para desabar com vocês. Agora, dias depois, mantenho toda a mágoa no peito, porém não discutirei com ele. É profissional, não é mesmo? Assim se estabelece nossa conexão. Ele colocará suas luvas, enfiará as mãos em minha boca e me amordaçará de algum jeito. Literalmente ou não. Sairei do consultório com um dente a menos e muitas, muitas moedas de real gastas. Economia colapsante. É pela saúde, daí respeito. A saúde sequer tem diminutivo. “Saudinha?”, não existe. Portanto não dá para brincar. Com as pessoas brincamos. Brinca-se até destruir – e portanto não devo me abalar. O abalo é o flagelo do corpo e não se deve cair nesta armadilha.”