1. - Você é colagem.
Isso me ofende? Faço colagens. Devo entendê-las e não nego se parte delas for. Ser colagem. Colagem, veja, é um objeto próprio no fim. Exige pensamento... Toda arte exige pensamento, certo? Bem, talvez sequer exija. Não pensando se habilita uma colagem que nada fala, e do espectador é feita a condução. É nisso que me aplico? A colagem ao todo... Talvez, a margem final. Coisas todas. Frases, desenhos, fotos. Cortes de cabelo que agora estão em mim. Não se faça de tonto. Você é tão colagem quanto eu. Quem derroga, derrogado é. Todos derrotados por suas sentenças.
Se me ofendi, me desculpe. Com sinceridade, devo ser sempre aflito. Estar na margem da guerra. Você às vezes ganha pela persistência, pelas unhas mal cortadas que com golpes sem direção se tornam fios delgados de sangue na pele do oponente.
- Você também é colagem. Isso te incomoda?
2. Não quero terminar o pensamento assim. Todo para todos. Isto é arte e aquilo é arte. Esta é pra mim e aquela não. Vamos desmerecer alguma coisa. Algum objeto... Porém, que simplista e caótico! O que surgiu do humano deve ser desmerecido? Não. Deve ser arquivado. Que simplista caótico! Arquiva e chama de arte. Põe em alguma literatura artística. Isto é arte e aquilo é arte, para mim e para você. Não e não e não. Desmereça calado, coma a tela e engasgue a tinta. Simplista caótico! Simplista e caótico.
3. Desenvolve-se uma habilidade para sentir a dor. Prazer na dor. Horror à dor. Algo além do efeito desmoralizante da dor, como um acontecimento físico ou espiritual que encapsula um instante do tempo, uma viga lateral de história. Não. Faça-se mais que isso. Dor como procissão. Para se fazer homem, sentir-se mulher; deixar de ser humano em vez de compreender a existência do momento. Abdicar-se enquanto se inclui em sociedade. Múltiplos padrões.