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quarta-feira, 26 de junho de 2024

Moldagem

1. Eu já nem sei te dizer... Todos esses desprazeres interrompidos são engessados e eventualmente esquecidos. Na chuva forte o gesso se desfaz, a pedra perdura. Aprendi e portanto não me preocupo.

2.
Ontem do carro vi a escultura no centro da cidade. Ela sempre esteve lá, desde que me assentei por aqui. É pedra, obstáculo permanente. A essa altura da vida devo saber trabalhar com gesso. Não sei trabalhar com pedra.

3. Se comparo essas estruturas a esses meus desprazeres interrompidos, são eles gesso? São eles pedra? Irão desaparecer na chuva? Permanecer por mais uma década? Necessitam do entorno, o dentro da sala?

4. Não parece ser terapêutico não saber descrevê-los, de onde vêm ou o que são. Por uma década procuro a chuva forte sobre o gesso. Confundo os materiais que me estruturam esses sentimentos. Como expressá-los, liquefazê-los?

5. Quando interrompidos são articulados pelas mãos, amassando os fragmentos em novos desprazeres. Se essa fragilidade fosse o todo, talvez não me preocupasse. Não aprendi o que são, por que são e por que continuam a ser. Na chuva forte ou na sua ausência. Na minha estadia ou longe de mim.